Se você leu o artigo de ontem, sobre a inércia, será fácil compreender tudo que tenho para te falar. Se não leu também, a final de contas eu aprendi a lição e não quero perdê-la(o) até a o final da leitura deste artigo.
Deixa eu te contar que tenho amigos e amigas, mas já tive muitos mais. Muitos passara, por minha vida, e poucos ficaram. E você irá pensar que isso é natural! Tenho de concordar! O que acontece que houve momentos em minha vida que tomei decisões que fizeram cisões com alguns grupos de amigos. Ou em função da saída de algum grupo, ou na mudança de trabalho, ou até mesmo a mais impactante de todas com relação a minha sexualidade. Só que o importante aqui, é atentarmos para um fator: a vida é relacionamento e esforço mútuo.
Alguns desses amigos se foram, alguns não fizeram e não fazem falta. Contudo, muitos deles poderiam ainda estar por aí. E por que eu não fiz nada em cada um desses acontecimentos? Pois não tinha algumas crenças dentro de mim:
1-Expectativa
As primeiras e mais fortes crenças que eu precisei derrubar para entender como as pessoas funcionam estavam todas relacionadas com a expectativa. Entender que o mundo que eu projeto dentro de mim (nosso próximo ponto) é diferente da realidade, e que o que eu espero de ação dos outros não será correspondido se eu não agir. Dessa forma, todas as vezes em que me isolei e fiquei pensando "se são meus amigos me procurarão" eu criei expectativas infundadas sobre a amizade, sobre o dia a dia das pessoas, sobre como elas lidam com a pressão e com a rotina.
Cada um de nós tem uma rotina diferente, que trará problemas ou soluções que ocuparão a nossa mente e pode ser que nos lembremos das pessoas queridas, mas imersos nisso não teremos condições práticas de contatá-las, e ao nos recordarmos, por vezes, pensamos ser tarde demais ou pensamos que nem saberíamos o que dizer. Criamos um mundo próprio dentro de nós.
2 - Projeção
E ao criar as nossas expectativas, projetamos nos outros esse mundo interno, e queremos que eles pensem como nós. E por vezes inconscientemente projetamos nossos anseios e frustrações neles. "Você não me procurou quando mais precisei" é uma frase típica de projeção, e por qual razão o inverso não aconteceu? Então eu projeto as minhas próprias falhas nas outras pessoas, e fico na expectativa de que elas façam o que eu não fiz ou ajam por mim (a chamada terceirização).
3 - Perdão
E é aí que entra o Perdão. Essa palavra que tem vezes parece profunda e cheia de significado e vezes que parece tão vazia quanto aquelas casquinhas de ovo que a gente usa para encher de amendoim açucarado na páscoa. Só que o primeiro perdão precisa ser dado a nós mesmos. Por criarmos expectativas, por projetarmos nos outros. Em muitas vezes queremos perdoar os outros por terem nos abandonado, quando na verdade nós também os abandonamos, e combinemos: uma abandono duplo não é abandono. É separação amigável, eheheheh. O problema que o silêncio e o afastamento só aumentam os ruídos, e fazem com que as ideias de abandono aumentem.
4 - Cairós
Esse é o ultimo e mais importante conceito. O tempo de Deus (ou da Deusa, ou dos Deuses, você escolhe). Precisamos entender que as coisas precisam maturar, precisam de tempo e que para cada pessoa o tempo é diferente. Aquilo que eu levo para processar 1 dia, você pode fazê-lo em 1 semana ou em 1 minuto, e está tudo bem. Pois é preciso que toda a sua energia, e todos os seus neurônios, e toda a química do seu corpo estejam alinhados, e para que os três pontos anteriores aconteçam leva um tempo. E para cada coisa da vida o tempo será diferente. Para lidarmos com os outros e com o abandono então...
Por isso hoje eu entendo que na maioria dos casos em que me separei de amigos ou de grupos, eles não me abandonaram. É mais provável que eu os tenha abandonado na tentativa de me preservar, mas sempre foram "separações amigáveis". Esse entendimento todo tirou um peso das minhas costas que me permitiu voar, ser mais leve e passar a não mais abandonar aqueles que cativo e que me cativam por onde eu passo.